domingo, 22 de fevereiro de 2009

A Arte de Claudyo Casares


"Bailarina"

O artista passeia pela história da arte e cria imagens enigmáticas de olhares penetrantes que nos acompanham. São seres cubistas com tendências picassianas, recortados dos vários planos nos quais a imagem se recompõe.
As formas coloridas, que mapeiam o fundo das obras, criam diagramas policromáticos que se aproximam pela composição aos mosaicos arquetípicos dos vitrais bizantinos.
Numa busca incessante, vai da figuração de Picasso e Matisse até o geometrismo de Mondrian.
A releitura feita por Casares das obras do passado reafirma a qualidade de sua produção e a busca pelo conhecimento só vem enobrecê-lo, pois quem se fundamenta em bons referenciais incorre em menor risco de erros.
Não dá para classificá-lo como um artista regionalista, pois o seu pensamento inquieto o faz buscar além fronteiras, ele está antenado com o mundo. A globalização pode não ser uma realidade, mas essa nova forma de dominação intelectual já se manifesta na sua iconografia, o espaço geográfico, que no passado serviu apenas de mediação intelectiva para o ato criador, no presente registra e marca, com sulcos ranhurais, o seu percurso ermitivo pelo planeta Terra.
A contaminação se dá, também, pela paisagem. Imagens simbólicas das culturas por onde transitou aos poucos vão sendo incorporadas ao seu texto visual.
Em sua obra “Guernica um pesadelo que nunca termina”, os representantes do holocausto são os mesmos mentores maléficos que afligem e torturam, no campo físico e mental, o mundo contemporâneo. Já a “Boiada Pantaneira”, uma outra homenagem picassiana, foi idealizada a partir da delicadeza contida nas dobraduras do origami, tendo como pano de fundo os paredões da Chapada dos Guimarães.
Em suas “Gatonças”, “Namoro Felino” e “Peixes” numa singela homenagem ao Estado de Mato Grosso, as obras incorporaram alguns dos seus elementos iconográficos mais ricos, a exemplo do Rio Cuiabá e do Morro de Santo Antônio. A série ”Dança dos Mascarados”, além da reverência à cultura popular da baixada cuiabana, evidencia a viola de cocho e sugere um dialogo intracultura, por intermédio das máscaras dos ídolos do cinema, o Batman e o Robin. O “Galo” com bico de saca-rolhas e o “Arcodeonista” remetem ao período que viveu nas terras portuguesas.
Ao produzir sua “Pietá” ,o artista satiriza com a dor provocada pela diversidade cultural e econômica, uma mendiga com seu filho ao colo. Mãe e filho choram copiosamente, postados na porta de um palacete, caracterizado pelo ícone geográfico da cultura, o “Morro de Santo Antônio”. Por trás dos personagens foi afixada uma tabuleta onde se lê: Sorria você está sendo filmado. A globalização também é homenageada com o seu lado mórbido, no “Jantar da Globalização” são servidas cabeças humanas, para serem degustadas com garfo e faca. Porém, por outro lado, em seu lado poético “Mesa Posta (Harmonia Vermelha)” matissiana, Casares cria um perfeito namoro em vermelho e azul enriquecido pela luminosidade do branco das cadeiras, e, no recorte da janela, em lugar da fria paisagem russa ele privilegia a vista marítima, do seu ateliê, em Lisboa.
Suas mulheres, são as próprias indagações do artista, seus olhos reformulam o questionamento da arte e é através deles que o mundo é percebido. É como se o artista visse pelo viés dessas lentes de complexidade obtusa, no olhar de uma das personagens Les Demoiselles d’Avignon. Ver e analisar a arte é a própria arte. Ele está ao mesmo tempo dentro e fora da tela.
Fagulhas caleidoscópicas agregadas, umas às outras, formam uma teia que o aprisionam.
A sensualidade do corpo feminino, em algumas de suas obras, se faz presente com tamanha simplicidade e segurança que não nos aflige nem seduz, apenas nos conduz para uma leitura perceptiva da obra. “O retrato de Bela” é a prova disto.
O que salta aos olhos é a exuberância das cores, usadas nos seus matizes primários provando que o artista tem o gosto pela pintura. O jogo monocromático do seu painel da Casa Cor 2000 comprova isto. Uma combinação de cores quase puras criando um ambiente gráfico, onde os demais elementos da de/composição são colados no campo colorido.
O seu desenho é pensado e arquitetado por toda a dimensão do suporte.
O artista tem o completo domínio do traço, porém, a meu ver, ele é utilizado apenas como exercício do aprisionamento da temática; na verdade, a sua busca incessante está na composição de blocos sobrepostos dos elementos da cor.

(José Serafim Bertoloto) Fonte: www.claudyocasares.art.br

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